the lost one
Talvez não fosse uma das manhãs mais amenas que eu presenciara, porém não poderia se dizer que aquele fatídico dia era quente. Ou seria isso apenas uma relação a triste memória de minha avó?
Bem, indiferente. Não são esses os fatos que importam. Não importa dizer que naquele dia, as árvores do jardim chacoalhavam de forma estranha, ainda que não houvesse tremores. Não importa falar que naquele dia as nuvens estavam carregadas, mas nem um pingo de água descera, mantendo nublado boa parte dele. Não importa falar que um casal de pássaros, alegres a cantarolar, pareciam, ao menos aos meus olhos, lamuriar por algo a ocorrer.
Não fora repentino, já se era esperado que um dia viesse a falecer. Bem, somos humanos, não é mesmo? Isso quer dizer que todos vamos morrer um dia, certo? Certo?...
Minha avó já vinha a tempos prolongando sua vida através de diversos tratamentos e remédios. Incontáveis pílulas podia se ver descendo por sua garganta nos primeiros e últimos copos d’água diários. Chás, jutsus médicos. Tudo era tentado. Porém apenas um retardo conseguiram criar. Ainda que fosse jovem, eu sabia o que aquela quantidade absurda de remédios significava. Ainda que eu tentasse negar, a cada tossir que se tornava mais frequente, eu sabia o que significaria tudo aquilo. -Meu neto... Venha aqui... *Dizia com sua fraca voz.* Cante alguma coisa... Eu adoro quando você canta...
Meu avô se afastara, não queria que sua esposa visse suas lágrimas de tristeza. Em pouco tempo, com um grande sorriso, ele voltava, tentava mostrar a sua amada que mesmo em seu leito, ele ainda era feliz de estar ao lado dela. Moribunda, suas forças não eram suficientes mais para se quer suas pernas. -Vá logo criança. Cante para sua avó. Ao menos mais uma vez.
-Me acompanha, vô? Virei para piano que ainda havia em nossa casa. Com um simples balançar de cabeça em concordância ele fora até o instrumento.
E fora entre lágrimas, algumas desafinações e notas de um piano que o segurar de mãos com minha avó fora perdendo suas forças até apenas se soltar e sua mão repousar sobre a cama. Seus olhos fechados e peito já não mais se mexendo eram o sinal de que o inevitável apenas ocorrera. Algo bom, ao menos. Um sorriso, mesmo entre as dores e o escapar de sua vida, minha avó demonstrara um sorriso estampado em seu rosto ao morrer.
Os dias que se seguiram foram uma mistura de tristeza e angústia. Meus pais, apesar de terem me rejeitado no nascimento, foram prestar suas condolências em respeito a memória da falecida. Uma mulher doce, gentil e amável. Até mesmo quando fizera parte de missões, era piedosa com seus adversários. Não é preciso dizer que ela não durara muito nas linhas de frente, sendo logo passada para a divisão médica.
Meu avô, ainda que deveras abalado, após aquela cantiga de ninar, não derramara uma única lágrima mais e seu sorriso continuava no rosto, mesmo durante o funeral. Muitos ali estranharam a ação. Bem, talvez todos, com exceção de mim. Recordo-me de não muitos anos antes uma conversa que eles tiveram e diziam que após a morte, deveriam sorrir, para mostrar ao amado que sempre trouxera felicidade e alegria.
Engraçado como nossas mentes nos fazem lembrar de coisas tão simples e as vezes sem sentido algum nas horas mais oportunas. Tomado por lágrimas e com meu nariz escorrendo, ainda tentei imitar o gesto do homem e manter-me firme com um sorriso no rosto.
Um banquete fora o encerramento da “festividade”. Todos, após até mesmo algumas músicas tocadas por mim, se alimentaram, deixaram seu incenso, assim como palavras de conforto ao viúvo, e retiraram-se.
Pode não ser verdade. Talvez tenha sido minha mente pregando uma peça em mim, ou talvez apenas o hábito de ver os dois juntos. Mas tenho certeza que naquele momento pude ver os dois progenitores de meu progenitor juntos, sorrindo um ao lado do outro, enquanto eu encerrava mais uma vez coma música favorita da mulher que cuidara de mim desde meu nascimento.
Não levara muito tempo para que meu avô, apesar de não estar doente, aparentemente, talvez apenas de saudades, acompanhá-la para o descanso eterno. Mas isso talvez seja para uma outra história.
- música:
- "Yasashii egao
Pirishi egao
anata no kawaii egao
Gin no kokoro to
kin no kokoro wo
zenbun anata ni ageru
Yasashii egao
Mirishi egao
anata no kawaii egao
Gin no kokoro to
kin no kokoro wo
zenbun anata ni ageru
Alchemi, Alchema
Kin no hoshi kakaete
Alchemi, Alchema
Yume no nakae
o yukinasai"
Música